Palavras ao vento
Blog- diário, blog-comentários, blog- artigos curtos, enfim, blog- um pouquinho de mim.
Tuesday, October 31, 2006
Monday, October 30, 2006
Sunday, October 29, 2006
Horas preguiçosas
Tarde de domingo.
Tento superar o marasmo do dia com algo de bom.
Pergunto-me se vale a pena procurar, procurar por algo que desperte, por algo que comova, por algo que encha meus olhos e meus ouvidos.
Saturday, October 28, 2006
Aforismos
por Manoel de Barros
Tem mais presença em mim o que me falta.
*
O branco me corrompe.
*
Tudo que não invento é falso.
*
Há muitas maneiras de não dizer nada, mas só a poesia é verdadeira.
*
Não saio de dentro de mim nem pra pescar.
*
Aonde eu não estou as palavras me acham.
*
Há histórias tão verdadeiras que às vezes parece que são inventadas.
*
A inércia é meu ato principal.
*
Não gosto da palavra acostumada.
Tem mais presença em mim o que me falta.
*
O branco me corrompe.
*
Tudo que não invento é falso.
*
Há muitas maneiras de não dizer nada, mas só a poesia é verdadeira.
*
Não saio de dentro de mim nem pra pescar.
*
Aonde eu não estou as palavras me acham.
*
Há histórias tão verdadeiras que às vezes parece que são inventadas.
*
A inércia é meu ato principal.
*
Não gosto da palavra acostumada.
Friday, October 27, 2006
"De Profundis"
A mais profunda súplica expressa em duas linguagens que traduzem toda sua pungência. Com A Suplicante de Camille Claudel, e com o rogo da prima Gerviz na crônica "O fim do mundo" de um cearense que tem toda a minha admiração Milton Dias.
Tuesday, October 24, 2006
Monday, October 23, 2006
A visão que gera o olhar

A obra Infância de Graciliano Ramos é uma obra reconhecidamente memorialista. E para o menino Graciliano a visão ocasionalmente perdida devido às crises de oftalmia, seria recompensada por uma descoberta: “Na escuridão percebi o valor enorme das palavras”.
É possível que a partir daí, tenha nascido o escritor Graciliano Ramos. Na escuridão, a percepção auditiva era aguçada e excitava sua imaginação – gerava-se um olhar invisível.
Diz o autor dessas memórias que quando a visão tornava, seus olhos enchiam-se de imagens e nessa agitação tudo se diluía. Essa perda de foco causada por esse excesso de imagens, faz com que nos tornemos os cegos de Saramago: “Cegos que vêem”. Percebemos, então que, enquanto a visão pode ser dispersiva e desorientar o pensamento; o olhar é mais seletivo, racional e algumas vezes podemos afirmar prescinde da própria visão.
É possível que a partir daí, tenha nascido o escritor Graciliano Ramos. Na escuridão, a percepção auditiva era aguçada e excitava sua imaginação – gerava-se um olhar invisível.
Diz o autor dessas memórias que quando a visão tornava, seus olhos enchiam-se de imagens e nessa agitação tudo se diluía. Essa perda de foco causada por esse excesso de imagens, faz com que nos tornemos os cegos de Saramago: “Cegos que vêem”. Percebemos, então que, enquanto a visão pode ser dispersiva e desorientar o pensamento; o olhar é mais seletivo, racional e algumas vezes podemos afirmar prescinde da própria visão.
Sunday, October 22, 2006
A mosca na sopa: De Sócrates a Raulzito
A mosca que mergulha na sopa e estraga o nosso apetite.
A mosca que pertuba o nosso sono.
Essa mosca aparece para nos incomodar, nos tirar da letargia e da prostração. E a nossa única reação é procurá-la, caçá-la com qualquer objeto que tenhamos em mãos para esmagá-la, pois não queremos sair dessa modorra.
Sócrates sentia-se como uma mosca, e foi visto como tal pela sociedade ateniense. E o que eles fizeram a este filósofo? Esmagaram-no com um cálice de cicuta.
Saturday, October 21, 2006
O Amor expresso num beijo.

A escultura O Beijo de Francesca e Paolo, personagens reais incluídos por Dante Alighieri na Divina Comédia, é a expressão mais romântica que há do amor. Segue abaixo a versão de Francesca de Rimini, extraída do Canto V-Inferno: “Líamos juntos a história de Lancelot(...). Estávamos sós e sem qualquer malícia. Mas por vezes, nossos olhares, encontrando-se, abandonaram a leitura e fizeram mudar a cor de nossas faces. Um trecho nos induziu ao pecado foi ao lermos sobre o beijo que o herói ousado depôs nos lábios da doce amante. Este aqui, meu companheiro para a eternidade, a boca me beijou ardentemente”.
Opostos que se atraem!

Na eterna busca por definir o que possa ser o Amor, esse sentimento ao mesmo tempo tão forte e tão contraditório, Camões tentou aproximar conceitos inconciliáveis. Vale a pena lermos essa releitura feita por Francisco de Quevedo:
Es hielo abrasador, es fuego helado,
Es herida que duele y no se siente,
Es um sonãdo bien, um mal presente,
Es um breve descanso muy cansado.
Es um descuido que nos há cuidado,
Um cobarde com nombre de valiente,
Um andar solitário entre la gente,
Um amar solamente ser amado.
Es uma liberdad encarcelada,
Que dura hasta postrero parasismo,
Enfermidad que crece si es curada.
Esta es el nino Amor, éste es tu abismo:
Mirad cual amistad tendrá con nada
El que em todo es contrario de si mismo.oO
Homenagem à chorona de L.A em Mulholland Drive

“Nutrizes de tristeza, mais que a noite
a chuva amadurece o meu silêncio
e me revela a mesma face ausente
que o tempo não dilui, acontecido.
(...)
Só a espera do amar se confunde
no desespero de quem canta e chora
na mais humana solidão que existe”.
(Fábula de fogo. p.220)
Quem viu Janela da Alma?

Com depoimentos incríveis de Hermeto Pascoal, José Saramago, Oliver Sacks, entre outros. O documentário fala justamente do processo de alienação, massificação e perda da individualidade pelo qual o homem moderno está passando. O excesso de informações, imagens e sons produzem nesse homem a sensação de perda da sensibilidade e conseqüentemente, da consciência pessoal. Vale a pena!
Quem são os cegos de Saramago?

Ao começar a ler Ensaio sobre a cegueira de José de Sousa Saramago, lembrei-me imediatamente de um conto de Antônio Alcântara Machado (1901- 1935), intitulado “Apólogo brasileiro sem véu de alegoria”, este conto narra o episódio inusitado de um trem que parte da cidade de Maguari rumo à Belém e no decorrer da viagem ocorre uma rebelião motivada pela falta de luz nos vagões, paradoxalmente o líder da rebelião é um cego. A primeira reação do leitor, diante do procedimento do cego é a de estranhamento. Como pode um cego queixar-se porque não há luz? O leitor, então, começa a perceber o caráter alegórico da narrativa, diferentemente do que preconiza o título. A narrativa, pois, se propõe a discutir o grau de consciência social das pessoas, e nesse sentido, levar o leitor a uma reflexão.
O tom doutrinário e irônico do conto permitem-nos traçar um paralelo com o texto de Saramago. Em Ensaio sobre a cegueira, o autor imagina uma onda de cegueira “branca” que se espalha por toda uma cidade. A conseqüência desastrosa dessa epidemia insinua o implícito de uma cegueira moral.
Na verdade, o que Ensaio sobre a cegueira faz é mostrar o que nos acontece na realidade: nós estamos moralmente cegos. “Cegos que vêem, Cegos que, vendo, não vêem” (p.310).